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Mostrando postagens de maio, 2020
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O MUNDO PRECISA DE MAIS GEOGRAFIA! Hoje, às vésperas de comemorarmos o dia do Geógrafo (29 de maio), resolvi compartilhar aqui a análise de um livro que, embora não tenha sido escrito por um geógrafo, e nem a eles seja dedicado, é uma demonstração pedagógica de que o mundo precisa empreender cada vez mais um pensamento geográfico, sob pena de ampliarmos ainda mais o sofrimento humano diante das incertezas do Antropoceno. Quando falo de pensamento geográfico, estou me referindo não necessariamente à produção de uma ciência específica, mas a uma forma de pensamento complexo que interpreta as múltiplas conexões entre a sociedade e a natureza no contexto das espacialidades terrestres produzidas. Quero apresentar hoje um livro chamado " Spillover: Animal Infections and the Next Human Pandemic " (Transbordamento: Infecções animais e a próxima pandemia humana), publicado em 2012 pelo escritor norte-americano David Quammen. Este livro vai na mesma linha de um outro já discut
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PINTANDO COM A LUZ  Certa vez Sebastião Salgado, mineiro da cidade de Aimorés, e um dos mais reconhecidos fotógrafos do século XX e XIX, afirmou que o fotógrafo é o artista que pinta com a luz. Talvez poucas expressões possam definir tão bem a obra deste artista que, desde os anos 70, registra as singularidades do mundo em tons de cinza. Quando mergulhamos na obra de Sebastião Salgado, percebemos  que ele possui uma capacidade única de não somente trabalhar com a luz, composição fotográfica e contrastes, mas também de mostrar ao mundo o que são realidades distantes que não conhecemos, a ponto de sermos capazes de nos emocionar com elas a cada foto. A foto é uma poesia desenhada no papel, transformando a tristeza do mundo em uma estética da resistência, denunciando que a vida esquecida pelos grandes mercados e pela política internacional insiste em reivindicar um espaço no planeta. Sebastião Salgado é um brasileiro que testemunhou ao longo de sua vida a esperança de um futu
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TODAS AS FAMÍLIAS FELIZES SE PARECEM Um dos clássicos da literatura russa do final do século XIX (Anna Karenina), escrito por Leon Tolstói em 1877, inicia com uma célebre frase: " Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz a seu próprio modo ". Extrapolando o contexto da obra, esta afirmação poderia ter se eternizado na análise das sociedades ao longo da história, já que na sociedade moderna capitalista parece haver apenas um caminho para a felicidade (o progresso, o desenvolvimento, a tecnologia, a acumulação de riquezas, a perda de natureza e o abandono de princípios éticos que insistem em nos relembrar da essência do humano). Nesse clube de países felizes, todos se parecem no consumo globalizado, no conforto tecnológico, frequentando shopings muito semelhantes, dirigindo automóveis de design universal ou adotando marcas corporativas que unificam as imagens do mundo. Já os infelizes, são infelizes cada um a seu modo, seja pela pobreza extrema,
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A cura da Terra? Há muitos anos atrás, comprei um livro escrito por um jornalista e professor da Universidade do Arizona, Alan Weisman, intitulado "O Mundo sem Nós". Este livro, lançado no Brasil em 2007, acabou virando uma minissérie de duas temporadas do History Channel em 2009, e alguns capítulos dublados ainda podem ser encontrados no youtube. Neste livro, Weisman reúne uma equipe de engenheiros, biólogos, climatologistas, geólogos e arqueólogos para dar respostas a uma só pergunta: Como ficaria a Terra, se a espécie humana desaparecesse repentinamente? A obra é uma versão estendida do artigo "Terra Sem Gente" (Earth Without People), escrito pelo mesmo autor e publicado na revista Discover em fevereiro de 2005. As distopias futuristas que tantas vezes têm aparecido nas telas de Hollywood desde a década de 70, como em "A Última Esperança da Terra" (1971) e em Mad Max (1979), já não trazem nada de tão novo assim; só para entendermos o alcance di
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QUANDO O MENOS SE TORNA MAIS Nestas últimas semanas tenho aqui feito comentários sobre livros extremamente interessantes para compreendermos a complexidade da relação sociedade-natureza no momento em que vivemos. Ainda assim, são livros densos, que exigem do leitor uma atenção demorada, uma reflexão lenta, um esforço intenso para conectar dimensões. Não poderia ser muito diferente disso, pois neste mundo caótico que ameaça a sobrevivência humana, a busca de atalhos e sínteses ligeiras, pode ser a pior das armaldilhas. No entanto hoje, ao contrário das obras que tenho comentado, vou apresentar uma feliz descoberta, que recebi como presente de uma querida amiga. Trata-se do livro escrito por Ailton Krenak, um dos mais destacados ativistas do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas no Brasil. Indígena da etnia crenaque, do vale do rio Doce, Ailton participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Brasileira de 1988 e é doutor honoris c
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PARA ONDE VAI ESSE TREM? Quando Marx e Engels escreviam "A Ideologia Alemã",entre os anos 1845-1846 (a primeira exposição estruturada da concepção materialista da história), eles buscaram articular as categorias essenciais da dialética marxista (como trabalho, modo de produção, forças produtivas, alienação, consciência) para interpretar o movimento do modo de produção capitalista, apontando para a origem das crises cíclicas do capital, as quais desembocariam em uma inevitável crise estrutural de colapso do sistema. Diziam os autores: "  Para que ela (a crise) se transforme num poder 'insuportável', quer dizer, num poder contra o qual se faça uma revolução, é necessário que tenha dado origem a uma massa de homens totalmente 'privada de propriedade', que se encontre simultaneamente em contradição com um pequeno mundo de riqueza e de cultura com existência real".  Se é verdade que de lá até aqui o modelo capitalista de produção tem acumulado um
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Um Verde cada vez mais desbotado! Desde que o conceito de "desenvolvimento sustentável" começou a circular mundo a fora, a partir da famosa publicação de 1987 do grupo liderado pela médica e ex-Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, intitulado "Nosso Futuro Comum", a ideia de substituição da matriz energética mundial esteve presente. O abandono da energia fóssil (produzida a partir da queima do carvão, petróleo e gás natural), e a sua substituição por uma energia "mais limpa", como a energia solar, eólica ou de biomassa, se tornou um mantra entre ambientalistas que, desde o início, denunciaram que as mudanças climáticas (acentuadas pelo uso indiscriminado da energia fóssil) representariam um papel decisivo no colapso da sociedade humana. Não há nenhuma dúvida de que eles estavam certos quanto ao impacto do uso da energia fóssil, pois não é preciso ser muito inteligente para entendermos que o uso ilimitado de recursos em um planeta fis